Bem
cebado, bastos beiços, com ar de cheirar mal, julguei-o, pelo perfil javalino,
vindo de zona montanhosa.
Errado,
pertence, afinal, a zona mais ao sul.
O
outro, mais modesto no vulto, compensa a sua menor espessura com poderosas
queixadas salientes e uma vasta testa que começa a partir de sobrancelhas
ramalhudas e vai terminar para lá da cauda, depois de contornar por inteiro um
crânio luzidio.
Ambos,
armados de óculos de lentes poderosas, que, em princípio, deveriam mostrar-lhes
a realidade, mas assim não é.
A
par ou à compita, assessoram uma estranha criatura de cara assimétrica e
meneios curvilíneos, que suscita desconfiança, sob todos os aspectos.
Os
três, coadjuvados, por vezes, por uns sujeitos nada tranquilizadores, criaram
sociedade de venda do que é alheio e assusta vê-los ou ouvi-los, quando um
incauto os interpela em termos morais. Parece que montaram banca para os lados
da Estrela e que o negócio lhes vai correndo bem.
Há
dias, pretenderam vender-me um serviço de correios e eu, sem grande bossa para
a vigarice, disse, inocentemente:
-
De que me servirá, se nem sequer escrevo aos meus amigos?
Eles
não desarmaram, argumentando:
-
Vendes em segunda mão e consegues bom dinheiro. Olha que somos nós a fazer-te
um favor, porque estamos, de momento, precisados de liquidez.
Assim
falam os sábios quando se trata de pilim.
Cocei
o queixo, pensativo, meditei uns segundos e acabei por responder secamente:
-
Não estou interessado. O que tenho chega-me.
-
Grande besta! – ouvi eu, do trio em uníssono. – Agora é que é fartar, meu
animal!
Teimosamente,
abanei a cabeça numa negativa intransponível.
Olharam-me
com ferocidade e desprezo, viraram as costas ostensivamente e partiram em
demanda de alguém mais esperto que eu.
Percebo,
agora, que desperdicei uma boa ocasião de me tornar milionário.
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