sexta-feira, 24 de janeiro de 2014


Bom seria que o parvo fosse menos parvo e soubesse retrair-se nas asneiras que diz ou faz.
Para mal dos nossos pecados, as coisas não são bem assim e, a expensas nossas, o pobrezinho de espírito vai alternando ora no lugar de entrevistado ora no lugar de entrevistador, numa autopromoção contínua que o nobilita aos olhos de um povo idiotizado e a idiotizar.

Não contente, porém, vai invadindo as casas editoras que o acolhem com agrado, por garantir publicidade e venda.
E a lepra está alastrando de tal modo que o exíguo espaço, pertença, por direito, a Saramago, Lobo Antunes e alguns mais, está a estreitar-se assustadoramente de dia para dia.

Mas compreender-se-á melhor o êxito da criatura, quando se tem em conta que houve ministra, dita socialista, exterminadora, simplesmente, da literatura, que substituiu por uma apreciativa degustação de artiguelhos de jornais e revistas cor-de-rosa.
Também, como valioso contributo para o eterno descanso da alma do país, a mui sábia senhora viu-se agraciada com um lugarzinho à sombra dos seus mentores, lugarzinho de proventos e relações.

Perdoe-se, porém, tão crasso disparate, porque a coitada é uma provinciana chapada e jamais medirá o alcance do que, em certa altura, pôde impor a um professorado moldável. Jamais lhe passará pelo bestunto, creio, que uma pedagogia adulterada serve perfeitamente o projecto de um mercado mundial único, onde pulsões, gostos, aspirações, necessidades, ideias sejam únicos, em gente docilmente canina que, como os cães de Pavlov salivavam, gulosos, ao tilintar da campainha do dono.
A expressão chocalhada, frequentemente, de que não há alternativa é pequena amostra do processo de ocupação, por inteiro, do cérebro humano, seja qual for a raça ou latitude.

Valha-nos a esperança de sobrevivência de uns pouquinhos que, depois da catástrofe civilizacional, consigam penosamente construir uma sociedade nova, limpa, saudável, onde se viva a alegria de ser homem e não bicho.

 

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