Caro
amigo,
Não
se deixe abater pelas contrariedades da vida e faça seu o pensamento positivo,
enfileirando no séquito reinante de momento, ainda que pareça ilusório vir a
abichar alguma coisa.
Dê
tempo ao tempo, que tachos e tachinhos vaguem, com os seus detentores actuais a
mudar de poiso, para as administrações que antes prepararam.
Diz
você que perdeu o emprego e corre o risco de ficar sem casa.
Mas
qual é o problema?
Escute
a Joninhas e não coma bife, que carne faz mal à saúde.
Lembre-se
que, a partir de agora é livre, nem patrão, nem horários, podendo assomar a
qualquer hora à janela das oportunidades. Com cautela, sem se debruçar
demasiado, que pode cair à rua, indo engrossar a lista crescente dos suicidas.
É
verdade que continua preso à prestação da casa, mas já não tem, imis, taxas de
saneamento, de energias renováveis, de funcionamento da Autoridade da
Concorrência e da ERSE, de ocupação do subsolo e do ar para passagem de cabos
vários, de compensação aos operadores de Energia, de potência contratada, de
exploração DGEG, de harmonização tarifária dos Açores e Madeira, e, ainda, o
imposto especial de consumo de electricidade, uma infinidade de alcavalas que
nos infernizam a vida.
Bem
vistas as coisas, o senhor é um felizardo e, mesmo que o seu filho abandone os
estudos, não se esqueça que o rapaz deixará a sua zona de conforto para descobrir
novos horizontes, ganhar saber e experiência, levar, através do mundo, o bom
nome de Portugal.
Nem
tudo é mau, como vê.
Caso
as minhas palavras não o serenem, sente-se diante da televisão, enquanto pode,
olhe com olhos de ver a impância do negreiro, as piruetas e ademanes dúbios do
irrevogável, os esgares dos muito, muito, muito cidadões, que nunca se enganam
e raramente têm dúvidas, excepto no tocante aos Cantos de Os Lusíadas, e atente bem no servilismo dos mordomos com ou sem
farda, na impassibilidade fria dos mentirosos de serviço, no patriotismo de
lapela alardeado com estrondo, para vender o país a retalho, na fúria solta,
rancorosa, dos que temem perder a sumarenta teta estatal, eles, coitados, desabituados
já dos soquinhos e da vida insosa da sua
paróquia natal.
Tenho
a certeza certezinha do efeito benéfico sobre a sua débil saúde, física e
mental.
Eu,
cá, garanto-lhe, riu-me a bandeiras despregadas, apesar da tragédia de uma democracia
que descambou em demagogia e vai acabar em farsa.
A julgar insuficientes estas minhas
considerações, agradeço-lhe resposta na volta, que eu estou e estarei sempre ao
dispor.
Um
abraço de um com-patriota também resiliente e também agradecido à Europa da
agiotagem generosa, que premeia os coveiros dos seus próprios países.
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