domingo, 12 de janeiro de 2014


Caro amigo,
Não se deixe abater pelas contrariedades da vida e faça seu o pensamento positivo, enfileirando no séquito reinante de momento, ainda que pareça ilusório vir a abichar alguma coisa.
Dê tempo ao tempo, que tachos e tachinhos vaguem, com os seus detentores actuais a mudar de poiso, para as administrações que antes prepararam.
Diz você que perdeu o emprego e corre o risco de ficar sem casa.
Mas qual é o problema?
Escute a Joninhas e não coma bife, que carne faz mal à saúde.
Lembre-se que, a partir de agora é livre, nem patrão, nem horários, podendo assomar a qualquer hora à janela das oportunidades. Com cautela, sem se debruçar demasiado, que pode cair à rua, indo engrossar a lista crescente dos suicidas.
É verdade que continua preso à prestação da casa, mas já não tem, imis, taxas de saneamento, de energias renováveis, de funcionamento da Autoridade da Concorrência e da ERSE, de ocupação do subsolo e do ar para passagem de cabos vários, de compensação aos operadores de Energia, de potência contratada, de exploração DGEG, de harmonização tarifária dos Açores e Madeira, e, ainda, o imposto especial de consumo de electricidade, uma infinidade de alcavalas que nos infernizam a vida.
Bem vistas as coisas, o senhor é um felizardo e, mesmo que o seu filho abandone os estudos, não se esqueça que o rapaz deixará a sua zona de conforto para descobrir novos horizontes, ganhar saber e experiência, levar, através do mundo, o bom nome de Portugal.
Nem tudo é mau, como vê.
Caso as minhas palavras não o serenem, sente-se diante da televisão, enquanto pode, olhe com olhos de ver a impância do negreiro, as piruetas e ademanes dúbios do irrevogável, os esgares dos muito, muito, muito cidadões, que nunca se enganam e raramente têm dúvidas, excepto no tocante aos Cantos de Os Lusíadas, e atente bem no servilismo dos mordomos com ou sem farda, na impassibilidade fria dos mentirosos de serviço, no patriotismo de lapela alardeado com estrondo, para vender o país a retalho, na fúria solta, rancorosa, dos que temem perder a sumarenta teta estatal, eles, coitados, desabituados já  dos soquinhos e da vida insosa da sua paróquia natal.
Tenho a certeza certezinha do efeito benéfico sobre a sua débil saúde, física e mental.
Eu, cá, garanto-lhe, riu-me a bandeiras despregadas, apesar da tragédia de uma democracia que descambou em demagogia e vai acabar em farsa.
A  julgar insuficientes estas minhas considerações, agradeço-lhe resposta na volta, que eu estou e estarei sempre ao dispor.
Um abraço de um com-patriota também resiliente e também agradecido à Europa da agiotagem generosa, que premeia os coveiros dos seus próprios países.
 

 

 

 

 

 

 

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