CARTA
ABERTA
Senhores,
Dos
muitos analistas e comentadores, nenhum, nenhum ainda, referiu o que há décadas
se passou com diversos países em diversos continentes.
Falam
do pequeno Portugal como se fosse caso único, à excepção da Grécia, que
esconjuram de longe a longe, quando um malintencionado nos compara.
Jamais
duvidarei do imenso saber que se aloja nos vossos cérebros, depois da Católica
ou da reputada universalmente Faculdade de Economia da Nova.
Quem
andou tantos anos nas mãos de Cavacos ou Queixadas, Neves ou passa-fomes,
enfrasquilhados em fato novo, não está como esteve. Não, ficou escavacado, mais
burro ainda. É ver os exemplares Camelos e meia-f., os faxinas ao rancho, agora
criadores de receitas de bem servir os patrões.
Estou
certo, claro, que no cumprimento consciencioso de fazedores de opinião, de
manhã, ao pequeno almoço, de roupão e pantufas, lêem todos os jornais da paróquia e selectas publicações
estrangeiras, custeadas pela banca, inteirando-se dos momentosos momentos e
acontecimentos outros por que estamos passando.
O
escrúpulo que põem no trabalho, bastante rendoso e a contento dos agiotas, com
a presença obrigatória nas direcções e redacções de jornais, mesas redondas e
bicudas de canais televisivos, entrevistas oportunas de oportunistas,
percebe-se que um trabalho destes não vos dará tempo livre e a menor moderação no vosso afã
refletir-se-ia, pesadamente, no ordenado ao fim do mês.
Contudo,
na esperança de uma pequena abertura, atrevo-me a recomendar uma leitura da
intervenção, em conferência na Sorbonne, do presidente Correa, do Equador,
publicada na edição portuguesa do Le
Monde Diplomatique, ou o pequeno estudo de Vicenç Navarro, no Publico online espanhol que, graças a
Deus, nada tem a ver com O Público
português.
Se,
caso sintam força para mais e as vossas meninges possam aguentar, aqui vão uns
títulos, dignos de atenção a todos os títulos:
Loretta
Napoleoni, Rogue Economics
Vicenç
Navarro, Hay Alternativas
A.
Garzón Espinosa, La Gran Estafa
Susan George, Cette
fois, en finir avec la démocratie
David Harvey, The
New Imperialism
Ignacio Ramonet, Le
Krach parfait
Frédéric
Lordon, Jusqu’à quand? Pour en finir
avec les crises financières
Irei,
mesmo, ao exagero, confiado na resistência do vosso estômago, de aconselhar The Rise of Disaster Capitalism,
de Naomi Klein, na língua original ou em espanhol, onde poderão encontrar
traduções fiáveis dos autores citados, já que, para nossa vergonha, a tradução
portuguesa da jornalista canadiana de investigação causa vómitos.
Desculpem
esta ousadia doutoral, mas pareceu-me estarem algo desinformados e não se
aperceberem de que países, onde Shumpeter, Hayek e Friedman se impuseram à
força bruta da bota militar ditatorial, repudiam
hoje a dolorosa experiência e ficam boquiabertos com a nossa estupidez de não
termos aprendido nada com eles.
É
que o capitalismo selvagem, enxotado de alguns países da América do Sul,
virou-se à Europa, e quer compensar o que perdeu, espezinhando os indígenas,
para poupar nas onerosas deslocalizações, sempre a exigir instalações,
transportes, seguros, tempo perdido, etc.
Sem
mais, muito pesaroso do incómodo causado por despertar algum escrúpulo,
O
irresiliente.
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