terça-feira, 14 de janeiro de 2014


CARTA ABERTA

Senhores,

Dos muitos analistas e comentadores, nenhum, nenhum ainda, referiu o que há décadas se passou com diversos países em diversos continentes.

Falam do pequeno Portugal como se fosse caso único, à excepção da Grécia, que esconjuram de longe a longe, quando um malintencionado nos compara.

Jamais duvidarei do imenso saber que se aloja nos vossos cérebros, depois da Católica ou da reputada universalmente Faculdade de Economia da Nova.

Quem andou tantos anos nas mãos de Cavacos ou Queixadas, Neves ou passa-fomes, enfrasquilhados em fato novo, não está como esteve. Não, ficou escavacado, mais burro ainda. É ver os exemplares Camelos e meia-f., os faxinas ao rancho, agora criadores de receitas de bem servir os patrões.

Estou certo, claro, que no cumprimento consciencioso de fazedores de opinião, de manhã, ao pequeno almoço, de roupão e pantufas, lêem todos os  jornais da paróquia e selectas publicações estrangeiras, custeadas pela banca, inteirando-se dos momentosos momentos e acontecimentos outros por que estamos passando.

O escrúpulo que põem no trabalho, bastante rendoso e a contento dos agiotas, com a presença obrigatória nas direcções e redacções de jornais, mesas redondas e bicudas de canais televisivos, entrevistas oportunas de oportunistas, percebe-se que um trabalho destes não vos dará  tempo livre e a menor moderação no vosso afã refletir-se-ia, pesadamente, no ordenado ao fim do mês.

Contudo, na esperança de uma pequena abertura, atrevo-me a recomendar uma leitura da intervenção, em conferência na Sorbonne, do presidente Correa, do Equador, publicada na edição portuguesa do Le Monde Diplomatique, ou o pequeno estudo de Vicenç Navarro, no Publico online espanhol que, graças a Deus, nada tem a ver com O Público português.

Se, caso sintam força para mais e as vossas meninges possam aguentar, aqui vão uns títulos, dignos de atenção a todos os títulos:

Loretta Napoleoni, Rogue Economics

Vicenç Navarro, Hay Alternativas

A. Garzón Espinosa, La Gran Estafa

Susan George, Cette fois, en finir avec la démocratie

David Harvey, The New Imperialism

Ignacio Ramonet, Le Krach parfait

Frédéric Lordon, Jusqu’à quand? Pour en finir avec les crises financières

Irei, mesmo, ao exagero, confiado na resistência do vosso estômago, de aconselhar The Rise of Disaster Capitalism, de Naomi Klein, na língua original ou em espanhol, onde poderão encontrar traduções fiáveis dos autores citados, já que, para nossa vergonha, a tradução portuguesa da jornalista canadiana de investigação causa vómitos.

Desculpem esta ousadia doutoral, mas pareceu-me estarem algo desinformados e não se aperceberem de que países, onde Shumpeter, Hayek e Friedman se impuseram à força bruta da bota militar ditatorial,  repudiam hoje a dolorosa experiência e ficam boquiabertos com a nossa estupidez de não termos aprendido nada com eles.

É que o capitalismo selvagem, enxotado de alguns países da América do Sul, virou-se à Europa, e quer compensar o que perdeu, espezinhando os indígenas, para poupar nas onerosas deslocalizações, sempre a exigir instalações, transportes, seguros, tempo perdido, etc.

Sem mais, muito pesaroso do incómodo causado por despertar algum escrúpulo,

O irresiliente.

 

 

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