Com
muita pena minha, perdi a absorvente paixão pelo futebol quando me assomaram os
primeiros pêlos no queixo e as primeiras ideias na cabeça.
Tão-pouco
creio que possa reaprender a amá-lo fervorosamente mesmo que me pusessem num
cadeirão televisivo, junto aos doutos comentadores, que filosofam, diariamente,
sobre tácticas, estratégias, lesões, transferências e muitos outros temas que
fazem a riqueza deste ramo do saber.
Sofro,
para meu mal, de uma espécie de torção no pescoço, torção irremediável, porque,
por mais que faça, já não consigo voltar à posição correcta.
E
lastimo imenso, já que gostaria muito de contribuir para a aceleração do único
motor que anima Portugal.
Em
suma: a minha entorse tornou-se um aleijão.
Resignado
à triste sorte, limito-me a reflectir sobre as coisas menores do quotidiano e,
eis se não quando, eclode-me um orgulho de que há muito precisava: o nosso
entendimento é muitíssimo mais exigente do que em qualquer parte do mundo.
Referir-me-ei,
a título de exemplo, à França, onde se fala, com desprezo, dos cães
atropelados, “les chiens écrasés”, forma sobranceira de olhar as notícias
idiotas que, com nojo, arquivam no caixote dos papéis.
Esta
atitude reprovável explica por si só a degradação crescente que atingiu, com o pico
mais elevado de que há memória: a eleição de um presidente pateta.
Nós,
longe disso.
Muito
pelo contrário, notícia entrada nas redacções da TV tem, de imediato, uma
primeira versão nos lábios da apresentadora ou nos beiços do apresentador.
Depois,
segue-se a variação, geralmente em dó maior, do repórter local ou enviado na
hora, que confirma a veracidade dos factos, recorrendo ao testemunho, ocular ou
não, de testemunhas e seus familiares.
E
o escrúpulo não fica por aqui, pois é traçado um historial do antes, do durante
e do depois, com insistência nos pontos mais relevantes.
Por
vezes há o reforço, ainda, da opinião ponderada de um familiar muito próximo ou
de primos afastados.
Digam-me,
agora, se encontram sítio no mundo onde se tenha um grau tamanho de exigência
informativa.
Portanto,
é maledicência gratuita, sem razão, dizer-se que somos superficiais ou
ignorantes.
Que
Nosso Senhor nos mantenha, para todo o sempre, nesta conscienciosidade
profissional!
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