domingo, 26 de janeiro de 2014


Dizia, sabiamente, minha avozinha, que quem lhe havia comido a carne, lhe roesse os ossos.
Assim, em princípio, quantos emigraram para as colónias, em busca de uma vida, que o país natal lhes negava, deveriam ter continuado por lá e viver a evolução da terra que os acolhera.

Mas muitos, tendo procurado a árvore das patacas e, não a encontrando, abanavam o preto, para que largasse o que podia dar.
O pior é que, a partir do fim da última guerra mundial, soprou um vento novo e o preto cansou-se dos abanões, revoltou-se, levou tudo de roldão, na sua raiva de quinhentos anos.

Entre a gente branca, havia quem entendesse, mas, como lhe faltava, na testa, qualquer sinal distintivo, viu-se obrigada a regressar às origens na mesma leva dos outros.
Regressados, embora acolhidos com favores que os de cá não tinham, não lhes foi possível retomar a vida que lá viviam e cá não havia a fartura a que estavam habituados.

Daqui, nasceu-lhes e cresce, ainda, no peito um tumor de ódio contra a revolução de Abril, a quem eles, míopes, atribuem a culpa das suas vicissitudes.
Agora, finalmente, empoleiraram-se no mando e estão a desforrar-se em quem está inocente de qualquer dano.

Dir-me-ão que alguns vieram pequeninos e, portanto...
Sim, mas respiraram o ambiente familiar inquinado de um vírus desforrista.

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