quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

 
Gostaria de entender por que razão o trabalho escuro do camponês tem sido desprezado, através dos tempos, e não há gajo que não se sinta no direito de explorá-lo, pagar-lhe miseravelmente, condená-lo a viver, por assim dizer, de esmolas.
 
Mesmo a esquerda honesta e consequente, não a outra bandeada, travestida de socialista, mesmo essa esquerda, repito, parece esquecer com frequência ser o camponês a pôr-nos a comida no prato e, sem comidinha, nem corpo nem espírito querem funcionar.
 
Nauseam-me os meneios politiqueiros que levam candidatos às terrinhas, onde muito democraticamente, depois dos apertos de mão convencionais, bebem um copo a empurrar a rodelinha de chouriço mastigada à pressa.
Tão-pouco me apanha a senhora ministra dos animais domésticos, quando apregoa o impulso colossal que imprimiu à agricultura, no intervalo de duas mamadas.
 
Em sua boca de oiro, tudo se encaminha, a par dos outros ramos de governação, para uma plétora final que nos porá à beira da indigestão.
Contudo, a realidade é diferente, com os preços baixíssimos que os distribuidores oferecem ao produtor, os custos brutais de compostos e adubos, os gastos energéticos insuportáveis, os canais de escoamento sempre adiados e, agora, para mais, a inscrição obrigatória de qualquer dono de courela que, registado, repertoriado, controlado, irá largar centenas de euros pela honra de figurar em estatísticas e, depois, uns bons milhares, para a avidez do fisco.
 
Sei de pessoas que, à falta de emprego, com formação superior, voltaram às terras do nascimento e quiseram fazer render as courelas herdadas.
Mas, face às múltiplas dificuldades burocráticas, creditícias, comerciais, impositivas, pegaram na maleta, passaram a fronteira e foram em demanda de outra forma de viver.
 
Esta é a realidade e não outra.
Se houver quem duvide, consulte os dados da emigração e repare no abandono dos nossos campos.
 

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