Gostaria
de entender por que razão o trabalho escuro do camponês tem sido desprezado,
através dos tempos, e não há gajo que não se sinta no direito de explorá-lo,
pagar-lhe miseravelmente, condená-lo a viver, por assim dizer, de esmolas.
Mesmo
a esquerda honesta e consequente, não a outra bandeada, travestida de
socialista, mesmo essa esquerda, repito, parece esquecer com frequência ser o
camponês a pôr-nos a comida no prato e, sem comidinha, nem corpo nem espírito
querem funcionar.
Nauseam-me
os meneios politiqueiros que levam candidatos às terrinhas, onde muito
democraticamente, depois dos apertos de mão convencionais, bebem um copo a
empurrar a rodelinha de chouriço mastigada à pressa.
Tão-pouco
me apanha a senhora ministra dos animais domésticos, quando apregoa o impulso
colossal que imprimiu à agricultura, no intervalo de duas mamadas.
Em
sua boca de oiro, tudo se encaminha, a par dos outros ramos de governação, para
uma plétora final que nos porá à beira da indigestão.
Contudo,
a realidade é diferente, com os preços baixíssimos que os distribuidores
oferecem ao produtor, os custos brutais de compostos e adubos, os gastos
energéticos insuportáveis, os canais de escoamento sempre adiados e, agora,
para mais, a inscrição obrigatória de qualquer dono de courela que, registado,
repertoriado, controlado, irá largar centenas de euros pela honra de figurar em
estatísticas e, depois, uns bons milhares, para a avidez do fisco.
Sei
de pessoas que, à falta de emprego, com formação superior, voltaram às terras
do nascimento e quiseram fazer render as courelas herdadas.
Mas,
face às múltiplas dificuldades burocráticas, creditícias, comerciais,
impositivas, pegaram na maleta, passaram a fronteira e foram em demanda de
outra forma de viver.
Esta
é a realidade e não outra.
Se
houver quem duvide, consulte os dados da emigração e repare no abandono dos
nossos campos.
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