Num
esforço desmedido que muito me custou, fui superando o êxtase que de mim se
apossara e, por fim, registei, deslumbrado:
“Exercício de falta
de memória”
Por
favor, atentem na profunda densidade do dito, na riqueza enigmática do
conteúdo, na inexcedível elegância expressiva.
Este
pequeno arrincanço tem recorte oracular, délfico e, suponho, inspirado de um
mundo que só os deuses conhecem.
Ignorante
como sempre, eu cá desconhecia antes, que, sob o céu, havia tão excelso
pensador e estilista, pois constara-me, apenas, que se limitava à guarda da
caixinha das esmolas.
Se
na minha feitura, Deus me tivesse prendado com um nadinha de argúcia,
adivinharia, por certo, o fenómeno, porque qualquer ser recrutado para o elenco
governamental é, obrigatoriamente, alguém de muito muito muito talento e saber,
cicerone seguro neste nosso caminhar para os amanhãs que cantam.
Infelizmente,
andei sem dar por isso.
Agora,
porém, face a uma formulação tão luminosa, estou decidido a afirmar que a
criatura se encontra bem ao nível dos seus pares, onde avultam, como se sabe,
personagens famosos no mundo inteiro, entre os quais um cientista-filósofo que
eclipsou desde há muito o saudoso eleata Américo Tomás.
Saiba-se,
pois, que uma nova estrela cintilou na constelação dos formidáveis renovadores
da economia portuguesa, para mais inovadores sem par da língua indígena, em
arroubos de imaginação transfiguradora que nos deixam entrever uma realidade,
que a realidade oculta, e distâncias sonhadas que a miopia nossa não enxerga.
A
graça celeste que os banha é tal que até indivíduos nulos, mas sempre
presentes, estão desprendendo rutilações que irão iluminar-nos, segundo os
áugures, nas próximas décadas e nas próximas das próximas.
Benvinda
seja esta bênção divina que, na altura oportuna, deu-nos apóstolos, pouco
valorados ainda, mas que, dentro em pouco, refulgirão nos altares
administrativos das empresas cervejeiras e outras, bancos nacionais e
estrangeiros, transnacionais aspirando a cósmicas.
Alguns,
num gesto de abnegação e santidade, deixar-se-ão captar pela voracidade
insaciável de instituições europeias e mundiais, que se enriquecem dia a dia
com o que de melhor os países produzem, financeiramente e imoralmente falando.
Digo-o,
porque aconteceu com o distraído Constâncio, da direcção suprema do BCE, o certeiro
Gasparinho, talhado para missões de alto risco, o Arnaut raivoso, exímio
privatizador retalhista e maiorista, agora no robustecimento ético dos pilares
do templo Goldman Sachs, e o fofinho Barroso, com encantador sorriso de cherne,
grande timoneiro à proa da Europa dos direitos, do progresso, da riqueza, do
bem-estar.
E,
como os astros auguram, dentro em pouco, revezados já por uma nova vaga de
jotinhas sequiosos, presentemente em estágio, teremos, santificados, em seus
nichos de oiro, um parlapatão maduro, o gaguinho caritativo, a financista
gélida e pétrea, o coveiro de Viana, Pedro, Paulo e etc., todos figurando no
vasto número de patronos que velam e velarão por nós.
A
estes juntar-se-ão, mais tarde, alguns ainda, no purgatório da espera de quem
não entendeu que é pouco alguém esconder-se hipocritamente em palavras mansas e
precisa, portanto, de cuidar o desagradável aspecto de mula da cooperativa ou
de fuinha desaustinada.
Posto
isto, quero aqui clamar, bem alto, de imediato, o meu aplauso e agradecimento
aos desígnios superiores, porque cérebros iluminados de tamanho esplendor e
pessoas impolutas de carácter exemplar não podem nem devem desperdiçar o natural
fulgor em países minúsculos como esta coisinha aqui.
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