sexta-feira, 17 de janeiro de 2014


Num esforço desmedido que muito me custou, fui superando o êxtase que de mim se apossara e, por fim, registei, deslumbrado:
“Exercício de falta de memória”
Por favor, atentem na profunda densidade do dito, na riqueza enigmática do conteúdo, na inexcedível elegância expressiva.
Este pequeno arrincanço tem recorte oracular, délfico e, suponho, inspirado de um mundo que só os deuses conhecem.
Ignorante como sempre, eu cá desconhecia antes, que, sob o céu, havia tão excelso pensador e estilista, pois constara-me, apenas, que se limitava à guarda da caixinha das esmolas.
Se na minha feitura, Deus me tivesse prendado com um nadinha de argúcia, adivinharia, por certo, o fenómeno, porque qualquer ser recrutado para o elenco governamental é, obrigatoriamente, alguém de muito muito muito talento e saber, cicerone seguro neste nosso caminhar para os amanhãs que cantam.
Infelizmente, andei sem dar por isso.
Agora, porém, face a uma formulação tão luminosa, estou decidido a afirmar que a criatura se encontra bem ao nível dos seus pares, onde avultam, como se sabe, personagens famosos no mundo inteiro, entre os quais um cientista-filósofo que eclipsou desde há muito o saudoso eleata Américo Tomás.
Saiba-se, pois, que uma nova estrela cintilou na constelação dos formidáveis renovadores da economia portuguesa, para mais inovadores sem par da língua indígena, em arroubos de imaginação transfiguradora que nos deixam entrever uma realidade, que a realidade oculta, e distâncias sonhadas que a miopia nossa não enxerga.
A graça celeste que os banha é tal que até indivíduos nulos, mas sempre presentes, estão desprendendo rutilações que irão iluminar-nos, segundo os áugures, nas próximas décadas e nas próximas das próximas.
Benvinda seja esta bênção divina que, na altura oportuna, deu-nos apóstolos, pouco valorados ainda, mas que, dentro em pouco, refulgirão nos altares administrativos das empresas cervejeiras e outras, bancos nacionais e estrangeiros, transnacionais aspirando a cósmicas.
Alguns, num gesto de abnegação e santidade, deixar-se-ão captar pela voracidade insaciável de instituições europeias e mundiais, que se enriquecem dia a dia com o que de melhor os países produzem, financeiramente e imoralmente falando.
Digo-o, porque aconteceu com o distraído Constâncio, da direcção suprema do BCE, o certeiro Gasparinho, talhado para missões de alto risco, o Arnaut raivoso, exímio privatizador retalhista e maiorista, agora no robustecimento ético dos pilares do templo Goldman Sachs, e o fofinho Barroso, com encantador sorriso de cherne, grande timoneiro à proa da Europa dos direitos, do progresso, da riqueza, do bem-estar.
E, como os astros auguram, dentro em pouco, revezados já por uma nova vaga de jotinhas sequiosos, presentemente em estágio, teremos, santificados, em seus nichos de oiro, um parlapatão maduro, o gaguinho caritativo, a financista gélida e pétrea, o coveiro de Viana, Pedro, Paulo e etc., todos figurando no vasto número de patronos que velam e velarão por nós.
A estes juntar-se-ão, mais tarde, alguns ainda, no purgatório da espera de quem não entendeu que é pouco alguém esconder-se hipocritamente em palavras mansas e precisa, portanto, de cuidar o desagradável aspecto de mula da cooperativa ou de fuinha desaustinada.
Posto isto, quero aqui clamar, bem alto, de imediato, o meu aplauso e agradecimento aos desígnios superiores, porque cérebros iluminados de tamanho esplendor e pessoas impolutas de carácter exemplar não podem nem devem desperdiçar o natural fulgor em países minúsculos como esta coisinha aqui.

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