terça-feira, 21 de janeiro de 2014


Sempre me boliu com o entendimento esta coisa de se falar em ruas da amargura.
E, à falta de melhor explicação, quedei-me pensando que isso ficaria para os lados da Musgueira.

Ultimamente, essa relativa tranquilidade minguou e vai minguando dia a dia, dado o esforço nosso em ocupar lugares cimeiros, à escala mundial, promovendo desemprego, miséria, desprotecção, numa expansão abrangente, da Galiza de Baixo, o Minho, a Marrocos de Cima, o Algarve.
Graças aos céus, o acaso sorriu-me, faz poucos dias, quando abri a televisão e tentei fugir à imensa porcaria que ela verte.

Imaginem, tropecei às tantas num debate que tinha, de um lado, António Filipe, do Partido Comunista, do outro, Teresa Caeiro, do CDS.
E, quase explodi na alegria de Arquimedes, ao ouvir a senhora defendendo, açodada, as pedrinhas da calçada.

Digam-me se não se percebe a surpresa da senhora, que rondava a indignação, por ter julgado ver no confrontante alguma displicência, pensando que, por obtusidade dele, com certeza, não conseguia alcançar a dimensão do cruciante e momentoso problema, sobretudo a acontecer num país onde reina a paz e a felicidade e nada há mais a assinalar.
Todo eu ardi na ânsia de intervir e ajudar a nobre dama num ataque feroz ao outro, o insensível.

E se eu tinha razões de peso!
Havia-me lembrado que, outrora, em terras nossas, um rei deixara obra capaz e, consequentemente, era detestado pelos compêndios, tanto mais que se apoiara no povo contra os nobres da época, que, como os de hoje, também tinham açambarcado por completo o país.

Foi D. João II.
O homem, ao subir ao trono, dizem ter dito, que eu não ouvi:

- Meu pai deixou-me rei das estradas de Portugal.
É ou não actualíssimo o desabafo, se não fúria? Com uma diferença: na altura, ninguém pensaria que nem sequer as estradas escapariam à gula do capitalismo depredador.

E pareceu-me que, nas profundidades do cérebro da senhora deputada, algo lhe sussurrava que defendesse o nosso património futuro.
Pois não é nada provável que haja compradores, nacionais ou estrangeiros, para as ruas do país, ainda que criando portagens a cada esquina, já que isso implicaria investir bom dinheiro no levantamento de portais por todo o lado.

Bom será, portanto, que, desde já, cuidemos das sobrantes vias públicas, ou nem isso teremos amanhã.

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