domingo, 9 de fevereiro de 2014


Não simpatiza com ele? Eu também não.
Aqueles traços repuxados, o focinho de fuinha deixam adivinhar um tipo refalsado, peçonhento, mau.

Já o viu a andar, enviesado, como galispo raquítico que arrasta a asa e a pata? Sim, sim, faz lembrar-lhe alguém!
Vou contar-lhe uma coisa que se passou comigo.

Cruzámo-nos à entrada do prédio, no preciso momento em que a moça da porteira, de joelhos, enxaguava o chão e tão à vontade e distraída estava que não deu por nós, mostrando bem mais do que é costume mostrar.
Eu, quando a moça nos viu, dispus-me a saltitar, brincalhão, agradecido pela vista, até ao elevador.

Tardando o vizinho para o embarque, virei-me e olhei.
Estava pálido, estarrecido, petrificado.

Teve a moça, simpaticamente, de desdobrar o pano para que ele passasse, poupando-o ao chão molhado.
Só então se aventurou aos quatro passinhos que o separavam de mim.

Já connosco na subida, rosnou, raivosamente:
- Que parecia impossível, àquela hora, ainda nas limpezas.

Eu limitei-me a cuspir-lhe um brevíssimo pois, pois, e, assim, me despedi.
Mas curiosei-me em saber quem a criatura era, que o nome cintilha-lhe na placa gravada da caixa do correio.

Sentei-me à frente do computador, liguei à Internet e tudo se esclareceu.
Estava num escritório de advogados, dos muitos que parasitam o Estado, a nós, bem entendido, em aconselhamentos, assessorias, pareceres, estudos, redacção e celebração de parcerias, as mil e uma coisas que não lembram ao diabo, mas correntíssimas e chorudas.

Querendo, encontrá-lo-á, ainda, na Administração da Gil & Gil, empresa especializada em contratos por ajuste directo.
Aqui, senti a pulguita na orelha, como dizem os franceses, porque negociatas destas pressupõem amiguinhos do peito, compadrios, cambalachos.

Daí o ter ligado, à hora certa, para o canal Parlamento.
Pois, não quer saber, lá estava ele, impecável na fatiota, focinheira franzida, ao lado de um seu correligionário Menezes, igualmente franzido, além de obstipado.

Tive a impressão de que, embora compinchas, se encontravam em despique, tentando descobrir qual dos dois seria mais capaz de provocar urticária a quem vê.
Nesse dia, da ordem de trabalhos constava a privatização dos Correios, das Águas e, se tempo houvesse, CARRIS e TAP.

Sem mais comentários, dir-lhe-ei que, sim, senhor, ele estava no partido certo e era de augurar-lhe um futuro político radioso e gratificante.

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