Tem cara de lua cheia,
cheíssima.
Com uma diferença: a lua, no
plenilúnio, irradia claror, num fulgir de oiro vivo, a abarcar o universo.
Se brilho há no nosso herói,
é o da enxúndia ressumante, nausea.
Reforçando esta repulsa,
está a auto-satisfação bronca, de campónio esperto e videirinho, à espreita, com
olhinhos em fisga.
Começou a arte de viver, ao
balcão do pai, e um dia, indo à cidade, resolveu trocar os soquinhos por botas
e acamar a grenha em gel.
Fez, depois, estudos. Sorte
a dele, encontrou professores que acharam graça à teimosia do puto.
Engoliu saberes, não digeriu
e, graças à memória prodigiosa, citava de cor o que nunca entenderia.
Sendo o que é o nosso
ensino, a formidável qualidade granjeou-lhe notas de louvar, acabando formado,
assistente, professor.
Uma coisa, porém,
continuaria a recusar: o ser humano, minúsculo, desestabilizando a Terra,
destruindo o planeta.
Sentiu ser seu dever acumular
argumentos inapeláveis, contra o imenso disparate.
Como um tolo é sempre
ouvido, ei-lo em prelecções televisivas, logo a seguir aos sábios comentários
futebolísticos.
Em tão boa hora, que
transnacionais interessadas em quem lhes defenda malfeitorias e predações
custearam viagens, organizaram simpósios, projectaram-no em revistas
científicas.
Algum tempo depois, era o
idiota referência, luminária.
Seduziu-o, então, a política
da paróquia e, precisando de cartão de um partido, espreitou, inquiriu.
Não lhe faltaram escolhas
por já ter a atenção atenta do arco da governação.
Hesitou, decidiu-se pelo
Partido Socialista.
E chegou a ministro, sim,
senhor!
Duvidam?
Não duvidem, que eu conheço muitos
outros casos em gordo, magro e assim-assim.
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