É difícil conceber uma tão
grande desonestidade profissional, tão despudorada falta de carácter.
Está, na Venezuela, um
enviado especial da televisão, pago por todos nós, para que tenhamos, julgo,
informação objectiva.
Ouvi-o no dia 15 deste mês
de Março.
Nas palavras dele, andava
por bairros da capital, onde a cada esquina espreita um perigo de morte certa.
Curiosamente, toda a sua escolta
era uma loirinha nova, a servia-lhe de guia.
A dada altura, abordou uma
dama que surgiu de algures e disse o muito que o país sofria, onde um governo
malvado, para aterrorizar os manifestantes pacíficos (!!), criara comandos
para-militares, fortemente armados, que abatiam qualquer um da oposição.
Imaginem que ele, jornalista
estrangeiro, deslocava-se por ali com um cartão de livre trânsito, que julgo
ser sempre obrigatório, mas obtido, de certeza, por milagre.
Dos assassinos à solta, não
lobriguei nem sombra e grande foi o azar porque em todo o tempo que falou,
ninguém o interpelou, ninguém o atacou, ninguém o capou, quase com pena minha.
Nesta excepção de sossego e
liberdade de acção, terminou a excelente reportagem.
No exacto dia, em que Telesur,
testemunhava uma gigantesca manifestação cívico-militar, com gente à paisana,
fardada, homens e mulheres, jovens e velhos, que, nos microfones à disposição,
acusavam as petrolíferas estrangeiras de fomentar a desordem, a destruição, a
penúria, a especulação, numa gula voraz pelas reservas venezuelanas.
E, em vez de ódio, diziam do
seu desejo de amor e paz, prosseguindo na senda da revolução bolivariana, que
já lhes proporcionara educação, saúde, aumento de salários, reforma para todos,
resultados no combate ao atraso e à pobreza, que a UNESCO reconhece e enaltece
e o reaccionarismo internacional esconde.
Ouvi eu uma mulher-soldado
afirmar, comovida, o que julgava óbvio, mas na Europa não é; as forças armadas
existem para defender o povo e não quem se crê senhor do povo.
O pulha, cujo nome
desconheço, nada viu nem ouviu, dobrado à baixeza de quem o manda.
Morra a alma e salve-se a
bolsa – é a ética que o norteia.
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