domingo, 16 de março de 2014


É difícil conceber uma tão grande desonestidade profissional, tão despudorada falta de carácter.
Está, na Venezuela, um enviado especial da televisão, pago por todos nós, para que tenhamos, julgo, informação objectiva.

Ouvi-o no dia 15 deste mês de Março.
Nas palavras dele, andava por bairros da capital, onde a cada esquina espreita um perigo de morte certa.

Curiosamente, toda a sua escolta era uma loirinha nova, a servia-lhe de guia.
A dada altura, abordou uma dama que surgiu de algures e disse o muito que o país sofria, onde um governo malvado, para aterrorizar os manifestantes pacíficos (!!), criara comandos para-militares, fortemente armados, que abatiam qualquer um da oposição.

Imaginem que ele, jornalista estrangeiro, deslocava-se por ali com um cartão de livre trânsito, que julgo ser sempre obrigatório, mas obtido, de certeza, por milagre.
Dos assassinos à solta, não lobriguei nem sombra e grande foi o azar porque em todo o tempo que falou, ninguém o interpelou, ninguém o atacou, ninguém o capou, quase com pena minha.

Nesta excepção de sossego e liberdade de acção, terminou a excelente reportagem.
No exacto dia, em que Telesur, testemunhava uma gigantesca manifestação cívico-militar, com gente à paisana, fardada, homens e mulheres, jovens e velhos, que, nos microfones à disposição, acusavam as petrolíferas estrangeiras de fomentar a desordem, a destruição, a penúria, a especulação, numa gula voraz pelas reservas venezuelanas.

E, em vez de ódio, diziam do seu desejo de amor e paz, prosseguindo na senda da revolução bolivariana, que já lhes proporcionara educação, saúde, aumento de salários, reforma para todos, resultados no combate ao atraso e à pobreza, que a UNESCO reconhece e enaltece e o reaccionarismo internacional esconde.
Ouvi eu uma mulher-soldado afirmar, comovida, o que julgava óbvio, mas na Europa não é; as forças armadas existem para defender o povo e não quem se crê senhor do povo.

O pulha, cujo nome desconheço, nada viu nem ouviu, dobrado à baixeza de quem o manda.
Morra a alma e salve-se a bolsa – é a ética que o norteia.

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