sexta-feira, 14 de março de 2014


Estava enganada ou não a direita, em disfarce democrata-cristã, social-democrata ou socialista, quando embandeirou em arco, com a entrada no euro, berrando, alto, sermos finalmente europeus, nós, que nunca me constou havermos pertencido à África ou a um outro continente que não fosse o europeu.
Esses apologistas de então lembrar-se-ão, ainda, de um tal Carvalhas, economista, ter alertado para a supina estupidez de juntar dois potes, um de ferro, outro de barro.

O tipo, é certo, era um perigoso comunista, que falava por cassete, ave agoirenta a comprazer-se em predizer desgraças.
Que dirão, agora, tão ilustres cérebros em busca de uma desculpa que os credibilize? Engano, desvio, mau humor dos deuses, mas, ao cabo e ao rabo, firmes na inabalável fé de a crise estar a chegar ao fim, ainda que palhaços de serviço afirmem, despudoradamente, só restar a miséria, perspectivada por vinte anos, a prolongar por mais vinte, pois outras crises se avizinham.

Duas perguntinhas, ainda.
Quando se disse há meses que havia que reestruturar a dívida, em termos justos, pagando o justo, juros e prazos comportáveis, políticos de parvónia e assessores comentaristas não clamaram heresia?

Terão outra solução?
Não é verdade, também, que quem fala em prevenir a saída do euro dos agiotas, forçada ou por vontade própria, é taxado de derrotista, ignorante ou louco?

Pois quê! Sentem-se com as costas quentes, sob o pálio dos predadores de dentro e de fora, que lhes cozinham os votos estupidamente inertes e pensam que esconjurarão males, pondo no pelourinho da praça quem lhes aponta miopia ou má-fé e fala, maçadoramente, em dignidade, soberania e progresso.
É que, para os lacaios de sempre, só a escravidão é futuro.

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