Ficámos tão deslumbrados com
a possibilidade de pôr baias ao despotismo de um rei, que não vimos, conter a
solução, na sua própria raíz, uma enorme perversão.
Dado que não era viável
irmos todos, ao monte, fiscalizar as decisões reais, decidimos designar uns
poucos que representassem os restantes.
E estes não tardaram muito a
navegar em águas turvas e malsãs, requerendo títulos e benesses, fundindo-se
com a nobreza, ganhando-lhe os gostos, vícios e prosápia.
Mais tarde, veio-lhes à
mente uma ideia abençoada, a de que notoriedade e poder poderiam multiplicar-se
por mil, se alargassem o voto a todos os dependentes seus, por amiguismo,
benefícios ou cunhas, enfim, corrupção.
Surge, então, o caciquismo,
institucionalizando-se numa rede tão densa de interesses interligados, que dá
para uma vida inteira e sobra, ainda, para os filhos, que irão continuar a
obra.
É lícito concluir que o
direito sucessório, inventado pela monarquia, veio a ser concedido aos
mandachuvas locais, reforçando-lhes privilégios e criação de classe parasitária
que, hoje, descaradamente, transita da administração pública para a privada e
vice-versa, numa ascensão imparável de poderio e bons proventos.
Não é estranhar, portanto,
que sejam eles os defensores raivosos do sistema, gritando democracia, ao mesmo
tempo que mentem, corrompem, num esforço de perpetuar situação tâo pingue,
decretando, por isso, que a história chegou ao fim e não há alternativa e este
é o melhor dos mundos.
Devagar, qualquer um vai acabando
por convencer-se que vota para ser traído, que ele não conta para nada, a não
ser o aumento, dia após dia, da podridão e imoralidade.
Mesmo nas cabeças duras, já
começa a vislumbrar-se que o regime parlamentar é coisa para lamentar e que os
deputados eleitos não são mais que de putedo.
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