domingo, 9 de março de 2014


Ficámos tão deslumbrados com a possibilidade de pôr baias ao despotismo de um rei, que não vimos, conter a solução, na sua própria raíz, uma enorme perversão.
Dado que não era viável irmos todos, ao monte, fiscalizar as decisões reais, decidimos designar uns poucos que representassem os restantes.

E estes não tardaram muito a navegar em águas turvas e malsãs, requerendo títulos e benesses, fundindo-se com a nobreza, ganhando-lhe os gostos, vícios e prosápia.
Mais tarde, veio-lhes à mente uma ideia abençoada, a de que notoriedade e poder poderiam multiplicar-se por mil, se alargassem o voto a todos os dependentes seus, por amiguismo, benefícios ou cunhas, enfim, corrupção.

Surge, então, o caciquismo, institucionalizando-se numa rede tão densa de interesses interligados, que dá para uma vida inteira e sobra, ainda, para os filhos, que irão continuar a obra.
É lícito concluir que o direito sucessório, inventado pela monarquia, veio a ser concedido aos mandachuvas locais, reforçando-lhes privilégios e criação de classe parasitária que, hoje, descaradamente, transita da administração pública para a privada e vice-versa, numa ascensão imparável de poderio e bons proventos.

Não é estranhar, portanto, que sejam eles os defensores raivosos do sistema, gritando democracia, ao mesmo tempo que mentem, corrompem, num esforço de perpetuar situação tâo pingue, decretando, por isso, que a história chegou ao fim e não há alternativa e este é o melhor dos mundos.
Devagar, qualquer um vai acabando por convencer-se que vota para ser traído, que ele não conta para nada, a não ser o aumento, dia após dia, da podridão e imoralidade.

Mesmo nas cabeças duras, já começa a vislumbrar-se que o regime parlamentar é coisa para lamentar e que os deputados eleitos não são mais que de putedo.

 

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