Pergunto-me, por vezes, se
estou, de facto, no meu juízo perfeito.
Porque louco é sinónimo de
anormal e, se há alguém em discordância permanente com o que é normal ouvir-se
e ver-se, sou eu.
Não bastando o que por aqui
se passa, chega-me um Burroso, por via televisiva, que afirma prazenteiramente
o que ainda ontem negava.
Pois continua lá, de pedra e
cal, parece, e, acabando o mandato, espera-o um lugar muito naturalmente de
igual mérito (!!), ainda mais honroso e proveitoso do que o de agora, tudo,
tudo à nossa custa.
Foi, há anos atrás, um
formidável ultra-revolucionário, sendo nos tempos de hoje um grato serventuário
e defensor acérrimo dos que antes combatia.
Interrogado, em certa
altura, sobre a evidentíssima abandalhação, arrancou das enxúndias que lhe vêm
da juventude:
- Só quem é burro não muda
de ideias.
Razão prontamente aceite
pelo entrevistador, pois nem sequer respondeu que é burro quem não muda de
ideias, mas é canalha quem trai os ideais que defendeu
Como este espécime,
infestam-nos de muitos lados bandalhos do género, a exibirem-se, impantes em
poltronas ministeriais (Crato), administrações privadas (Coelho), respeitáveis
cátedras (Barreto).
E julgo ser eu um de alguns
poucos com ataques de urticária, quando nos obrigam a tolerá-los no comando das
nossas vidas.
Outro tanto me acontece,
face a grandes sumidades, ou como tal apresentadas, que reconhecem o que
qualquer criança conclui: ao ponto a que o país chegou, nem daqui a vinte anos
levantaremos a cabeça.
Mas acrescentam,
pressurosos:
- Não há alternativa!
Axioma que de imediato se
repercute no psitacismo acrítico de jornalistas, comentaristas, analistas,
conferencistas, publicistas, ensaístas, os variadíssimos istas, encartados, diplomados,
licenciados, mestrados, doutorados, com títulos e subserviência mental que oferecem
a quem mais paga e os prostitui.
Mas tudo isto é normal,
diz-se, o anormal sou eu
Acompanho, entusiasmada, este blog, desde que apareceu.
ResponderEliminarPelos conhecimentos que transmite, pelas sínteses que consegue das coisas mais complexas, pela clareza, bela beleza da escrita, pela verdade, pela harmonia e, até, pela ironia que deixa transparecer.
Para mim, já se tornou um hábito, mal me levanto, de manhã, vir deliciar-me com os últimos textos
Obrigada.