terça-feira, 11 de março de 2014


Pergunto-me, por vezes, se estou, de facto, no meu juízo perfeito.
Porque louco é sinónimo de anormal e, se há alguém em discordância permanente com o que é normal ouvir-se e ver-se, sou eu.

Não bastando o que por aqui se passa, chega-me um Burroso, por via televisiva, que afirma prazenteiramente o que ainda ontem negava.
Pois continua lá, de pedra e cal, parece, e, acabando o mandato, espera-o um lugar muito naturalmente de igual mérito (!!), ainda mais honroso e proveitoso do que o de agora, tudo, tudo à nossa custa.

Foi, há anos atrás, um formidável ultra-revolucionário, sendo nos tempos de hoje um grato serventuário e defensor acérrimo dos que antes combatia.
Interrogado, em certa altura, sobre a evidentíssima abandalhação, arrancou das enxúndias que lhe vêm da juventude:

- Só quem é burro não muda de ideias.
Razão prontamente aceite pelo entrevistador, pois nem sequer respondeu que é burro quem não muda de ideias, mas é canalha quem trai os ideais que defendeu

Como este espécime, infestam-nos de muitos lados bandalhos do género, a exibirem-se, impantes em poltronas ministeriais (Crato), administrações privadas (Coelho), respeitáveis cátedras (Barreto).
E julgo ser eu um de alguns poucos com ataques de urticária, quando nos obrigam a tolerá-los no comando das nossas vidas.

Outro tanto me acontece, face a grandes sumidades, ou como tal apresentadas, que reconhecem o que qualquer criança conclui: ao ponto a que o país chegou, nem daqui a vinte anos levantaremos a cabeça.
Mas acrescentam, pressurosos:

- Não há alternativa!
Axioma que de imediato se repercute no psitacismo acrítico de jornalistas, comentaristas, analistas, conferencistas, publicistas, ensaístas, os variadíssimos istas, encartados, diplomados, licenciados, mestrados, doutorados, com títulos e subserviência mental que oferecem a quem mais paga e os prostitui.

Mas tudo isto é normal, diz-se, o anormal sou eu

1 comentário:

  1. Acompanho, entusiasmada, este blog, desde que apareceu.
    Pelos conhecimentos que transmite, pelas sínteses que consegue das coisas mais complexas, pela clareza, bela beleza da escrita, pela verdade, pela harmonia e, até, pela ironia que deixa transparecer.
    Para mim, já se tornou um hábito, mal me levanto, de manhã, vir deliciar-me com os últimos textos
    Obrigada.

    ResponderEliminar