segunda-feira, 17 de março de 2014


Quanto mais perto da condição animal, maior é o temor do homem ao visível e ao invisível, ambos povoados de incertezas e perigos que, em fúria súbita, se abatem sobre nós.
O Deus do Antigo Testamento, por exemplo, é a mitificação desses medos, excedida em crueldade, vingança, condenações eternas, que um Satanás sempre presente potencia.

Assim se vê o mundo o homem primitivo de ontem ou de hoje, considerando-se objecto, nunca sujeito.
É uma criança que teme a sombra, o ramalhar das árvores, qualquer som indescernível ou sinal indecifrável.

E, se há coisa que o assuste, é o longe, a distância, o desconhecido.
Os deuses, por isso, habitam sempre lugares inalcançáveis.

Mais perto, poder-se-ia perceber-lhes os contornos, definir-lhes a natureza real, desmascará-los, mesmo.
Está em curso, pois, toda uma operação de afastamento das resoluções, o que nos afecta a vida, situando em Bruxelas o que antes estava à mão, para aceitarmos a impossibilidade de luta e curvarmo-nos à omnipotência de um poder inelutável.

É o dobre a finados dos assomos actuais de democracia representativa, é a institucionalização de uma escravidão para sempre.
Vai-se transferindo para o real o que tem mantido vivas as religiões.

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