Quanto mais perto da
condição animal, maior é o temor do homem ao visível e ao invisível, ambos
povoados de incertezas e perigos que, em fúria súbita, se abatem sobre nós.
O Deus do Antigo Testamento,
por exemplo, é a mitificação desses medos, excedida em crueldade, vingança,
condenações eternas, que um Satanás sempre presente potencia.
Assim se vê o mundo o homem
primitivo de ontem ou de hoje, considerando-se objecto, nunca sujeito.
É uma criança que teme a
sombra, o ramalhar das árvores, qualquer som indescernível ou sinal
indecifrável.
E, se há coisa que o
assuste, é o longe, a distância, o desconhecido.
Os deuses, por isso, habitam
sempre lugares inalcançáveis.
Mais perto, poder-se-ia
perceber-lhes os contornos, definir-lhes a natureza real, desmascará-los,
mesmo.
Está em curso, pois, toda
uma operação de afastamento das resoluções, o que nos afecta a vida, situando
em Bruxelas o que antes estava à mão, para aceitarmos a impossibilidade de luta
e curvarmo-nos à omnipotência de um poder inelutável.
É o dobre a finados dos
assomos actuais de democracia representativa, é a institucionalização de uma
escravidão para sempre.
Vai-se transferindo para o
real o que tem mantido vivas as religiões.
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