quarta-feira, 5 de março de 2014


Se ninguém foge a confessar-se amante fervoroso desta nossa democracia, é caso para perguntar quais são os encantos de uma prostituta que muda de mãos de quatro em quatro anos.
Sobretudo ao confrontarmos as obras de hoje com as palavras de ontem dos seus apaixonados defensores.

Salta, também, à vista, que a alternância periódica, dita para todos, está, afinal, confinada a poucos, que, por estranha fatalidade, são sempre os mesmos, com posições que não diferem muito.
E o pobrezinho a pé, aquele a quem se mete um papelucho na mão, a grande maioria, pois, continua esperando e desesperando por benefícios que serão adiados ad aeternum.

-Enganaram-me! – clama o desgraçado, sem reconhecer que houve tempo, já,  para aprender.
Em vez disso, vai preparar-se para votar nos outros, que se dizem melhores e são, na realidade, são tão maus ou piores, como anverso e reverso de uma moeda falsa.

Perguntar-se-á: por que é que não se viram eles para aqueles que não puderam, ainda, demonstrar quem são e quanto valem?
Aqui surge a explicação cabal da gula pelos meios de comunicação, por parte dos poderosos, que, aparentemente, se arriscam a prejuízos económicos.

É que são eles, por via da criadagem, os formatadores de mentes, os controladores do pensamento, os fazedores da opinião, particularissimamente, com uma televisão que entra em todas as casas, nos lugares mais recônditos, para acompanhar o incauto do berço à sepultura.
Graças a quem os serve e ladra e morde a quem se opõe, vão açambarcando a governação, com ministros e deputados que, a troco de favores em poltronas de administração, lhes votam legislação favorável, tribunais complacentes, polícias que os defendem, evasões fiscais, privilégios, benesses, a continuidade, enfim, da dominação pura e simples do país ou países que abocanharam.

Os lucros seguem de vento em popa, as fortunas multiplicam-se, vendem-se, como milho barato, carros e vivendas de luxo, ao tempo em que se insiste na crise e na austeridade, exigindo miséria e sacrifícios que nunca mais acabam.
Os seus homens de mão, entretanto, estão dilapidando o Estado, vendendo os bens públicos, empochando comissões, agrilhoando o país ao cepo dos tratados internacionais.

O que se vem chamando democracia é, na realidade, cleptocracia.
A verdadeira, aquela por que aspiramos, em que haja exercido, de facto, como lhe diz o étimo, pelo povo, essa é e continua sendo uma pura utopia.

Ou por outras palavras: encontramo-nos, ainda, na irracionalidade, permanecemos, ainda, na pré-história do homem que seremos um dia. 

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