Vai-se-me tornando difícil
entender o momento em que vivo e ainda acabarei por dizer que uma morte precoce
é favor dos céus complacentes.
Ontem, assistindo, incauto,
ao pequeno debate entre dois jovens de quadrantes diferentes, um, rapaz de
muitíssimo mérito, graças ao papá e ao partido do mesmo, rosnou:
- Isso é ideológico.
O que era, num arroto
raivoso, argumento arrasador com que esperava derrubar aquele ou qualquer outro
que ousasse fazer-lhe frente.
Em cabeça de burro, por
certo, já de si franzida e purulenta, ter ideias é defeito imperdoável e virtude
será defender o que mais convém, pois moral e verdade pouco importam.
Se a tolice me choca, é por
se ter tornado recorrente e ouvi-la a muitas outras luminárias da política,
representantes do povo que os elegeu.
Porventura, assistir-lhes-á
alguma razão, dadas as escolhas que vêm sendo feitas, desde que repusemos os
certames eleitorais, onde damas e cavalheiros carismáticos, de apurada lábia,
se esmeram por enrolar uma gente disposta a acreditar em tudo o que lhes
lisonjia o ego.
Lábia treinada e sublimada,
nos vários cursos de direito torto, cuja deontologia professa que tudo é bom
quando está em jogo a defesa dos interesses de um cliente.
Bom advogado é sempre o mais
sabido, o mais rábula, com boas relações no foro e fora dele.
O tal jovem, que daí provém,
esta ideia entendeu, sabendo, de fonte certa, que esta é uma ideia
inideológica.
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