domingo, 6 de julho de 2014


Admito que quizílias e escândalos da pequenez de aldeia dêem pano para mangas nas palrações de café.
E a matrona minha vizinha, a quem nenhum pormenor escapa, péla-se por informações do género, erguendo-se, gratuitamente, a comentarista do burgo, quando esquece os seus achaques.

Convenhamos, todavia, que, em fazedores de opinião, olhar a freguesia apenas deixa um travo a maldizer e fulanização de taberna.
Sabe-se que Portugal ainda existe e num mundo em relação, onde o que se deu, dá ou dará passa-se ou passou-se em muitas outras latitudes.

Falar do que por aqui acontece, esquecendo a sua ligação com o resto, não me parece concebível em gente que, queira ou não, configura a opinião de outros.
É de louvar que citem Camões ou Shakespeare, mas responsáveis que são, nunca lhes ouvi referência a Harvey ou Eagleton, Illueca ou Espinosa, Petras ou Lapavitsas, nem um poucochinho sequer, a Louçã ou à Sandra, do melhor que a casa tem.

 
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Os que vierem depois do período de apodrecimento e depredação do planeta não dirão como nós, do fim do império romano, que nada dessa fase merece grande atenção.
Goza a nossa época da vantagem da multiplicidade de registos e descobrir-se-á que, em plena escatologia e degradação moral, no jornalismo, por exemplo, havia seriedade e arte no fazer.
Nunca o Avante! teve tão bons colaboradores, nunca tão ostensivamente se destacou do lixo em que existe, embora clandestinamente, quase, que qualidade e honra não se dão bem com desvergonha e negócio.
Talvez haja poucos que entendam, mas a desgraça de se viver entre sordidez e indignidade pode ser redimida se mais tarde disserem que até nas fases de baixeza maior há gente que é gente e anuncia um mundo novo.


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