segunda-feira, 7 de julho de 2014


Seja da índole ou por uma outra razão, a gente daqui não se dá ao trabalho como uma pena a cumprir.
Julgava eu, com meus olhos de meridional, ser a enxada a puxar pelo cavador, tão grande é a má-vontade deste, e, afinal, é o cavador a puxar a enxada, obrigando-a a segui-lo, em aceleração contínua.

Mesmo se há conversa ou palração desatada, que muito se aprecia por cá, trabalho, trabalhador e ferramenta não param, prosa, suor e tarefa unidos em sintonia completa.
É certo mostrar-se toda a terra grata, pedindo que a revolvam, possuam, fecundem, para responder generosa e pronta.

Mas olhamos da estrada e a desolação é dor, dos quilómetros e quilómetros ao abandono, quando muito subaproveitados.
A emigração de antes e, agora, em plena recrudescência deixam-nos um país sem pão, obrigado a importar o que necessitamos comer.

Há uns idiotas a clamar viragem, os mesmos que ainda há pouco, ajoelhados ao deus dinheiro, decidiram meter-se onde o fascismo recuou: baldios, terras comunitárias, arrancamento de cepas, plantação de eucaliptos, cotas e restrições de produção, imposições fiscais, tortuosidades burocráticas, uma destruição continuada do que nos daria a soberania.
De pouco servirá, também, fulanizar o sadismo, porque a culpa é só nossa, nós os tolhidos na cobardia e incapazes de preservar o que recebemos de herança.

A coragem, só nos antípodas ou contra as nações que buscam a dignidade que lhes foi roubada.

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