Seja da índole ou por uma
outra razão, a gente daqui não se dá ao trabalho como uma pena a cumprir.
Julgava eu, com meus olhos
de meridional, ser a enxada a puxar pelo cavador, tão grande é a má-vontade
deste, e, afinal, é o cavador a puxar a enxada, obrigando-a a segui-lo, em
aceleração contínua.
Mesmo se há conversa ou
palração desatada, que muito se aprecia por cá, trabalho, trabalhador e
ferramenta não param, prosa, suor e tarefa unidos em sintonia completa.
É certo mostrar-se toda a
terra grata, pedindo que a revolvam, possuam, fecundem, para responder generosa
e pronta.
Mas olhamos da estrada e a
desolação é dor, dos quilómetros e quilómetros ao abandono, quando muito
subaproveitados.
A emigração de antes e,
agora, em plena recrudescência deixam-nos um país sem pão, obrigado a importar
o que necessitamos comer.
Há uns idiotas a clamar
viragem, os mesmos que ainda há pouco, ajoelhados ao deus dinheiro, decidiram
meter-se onde o fascismo recuou: baldios, terras comunitárias, arrancamento de
cepas, plantação de eucaliptos, cotas e restrições de produção, imposições
fiscais, tortuosidades burocráticas, uma destruição continuada do que nos daria
a soberania.
De pouco servirá, também,
fulanizar o sadismo, porque a culpa é só nossa, nós os tolhidos na cobardia e
incapazes de preservar o que recebemos de herança.
A coragem, só nos antípodas
ou contra as nações que buscam a dignidade que lhes foi roubada.
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