terça-feira, 9 de dezembro de 2014


É simples constatação que o esquerdismo, uma vez terminada uma missão provocatória de ataque à esquerda consequente e, com sua actuação extremista, justificar a força da reacção bruta, que dizem combater, vão-se acomodando em diferentes quadrantes, muito frequentemente de direita assumida e nunca na zona onde a revolução se defende não por voluntarismos mas porque a sociedade exige, já que o que existe não responde e é entrave.
Como a história lhes registou as contorções ou piruetas e o descrédito é repulsa por traidores, quando algo novo parece impor-se, logo os conformismos assinalam perigo, confundindo com esquerdismos.
Assim ocorre com o “Podemos” em Espanha, primeiramente ignorado, depois escarnecido e, agora, combatido, vilipendiado, exorcizado, numa intensidade crescente, à medida que ganha força.
E não há pantufeiro nacional que, temendo pelo sossego e cómoda paralisia mental, a entreter-se com o osso que lhe deram para o distrair, não se mostre consternado, porque quanto for diferente, inédito, fora de estreitíssimos padrões, assume nas boas almas proporções apocalípticas.

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Dois parecem ser os momentos de reflexão a respeito do que se disse.
1 – Porquê a cambalhota do pseudo-revolucionário?
2 – Com que base se confunde “Podemos” e extrema-esquerda?

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No primeiro caso, atitudes assumidas vêm da necessidade de dar nas vistas, numa afirmação do ego, como é lei entre adolescentes etários ou mentais.
Esta é a razão por que Lenine definiu o facto de doença infantil.
No fundo, jovem ou adulto, move-o um complexo de inferioridade e a ânsia de não ser só um número entre números.
De uma maneira ou outra, procuram encontrar um rasgo que os erga do anonimato e negue, na aparência, o complexo de inferioridade que os martiriza.
E qualquer coisa servirá: inteligência, raça, sangue, dinheiro, estatuto, civilização, seja o que for, que os torne superiores.
Assim se encurta o espaço que medeia entre os dois extremos, que acabarão por tocar-se.

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Para o segundo ponto, a resposta possível é o absurdo, dado que o movimento procura exactamente a liberdade nos outros, a grandeza individual numa continuidade entre humanos, atacando os super-homens, apelando à força de ânimo, despertando o pensamento, a vida no seu devir.
Esbatem-se os chefes e constroem-se cidadãos, não se pretendem rebanhos mas gente que se entreajuda, luta-se por uma criação constante, recusa-se delegar, entorpecer, estupidificar.
Distância maior em relação aos extremismos é impossível existir.

 

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