Tempos de prodígio os nossos, em que a gaguez é facúndia.
Demóstenes exercitou-se em anos, este surge-nos da noite
para o dia, fenómeno só agora possível, porque, estando o país a afundar-se,
vem, com certeza, ao de cima quanta escumalha ocultava o porão do calhambeque.
Mas o rapaz vale o gesto, mesmo com diferença de custo entre
mota e carrão, que nós estragamos com mimos qualquer que pareça ter cérebro.
E o poucachinho é gigante quando nos embrulha nos números e
faz da mentira verdade.
Não lhe bastando a ajuda da máfia dita europeia que vai
ajustando contagens segundo conveniências da época, ele, o sacrista, finge
esquecer-se da emigração forçosa, da reactualização de listas dos desistentes
sem esperança, de formações ou estágios onde se desemboca no nada, da
precariedade de emprego de poucas semanas ou só dias, para concluir, o tipo, que
tudo vai bem e é o progresso espantoso.
Pena o INE ser obrigado, por vezes, a produzir estatísticas e
o FMI desdizê-lo com os 20% de desemprego real.
Apesar disso, o rapaz, volta e não volta bota falação aos
soluços, esperando que o oiçam, numa submissão que redime.
Até porque há lotaria que sai, parente com posses que nos
deixa a fortuna e o maná europeu que o senhor Shäuble dará.
Melhor é retomar o lema dos grandes comentadores políticos: esperemos para ver… navios!
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