POLÍTICA
Viveu milénios, numa
indefinição irresolúvel
Uns realçaram-lhe as
características histriónicas e integraram-na nas artes de representação.
Outros, sensíveis à palavra,
inclinaram-se pela retórica.
Quiseram mais alguns
enquadrá-la no âmbito das ciências especulativas e deram-na como afim da
economia e das finanças.
Não faltou, mesmo, quem,
preso na aspereza do horizonte, a estatuísse em arte e ciência da exploração e
opressão.
Hoje, é unânime que se veja
nela o mais profícuo ramo da cinegética
De facto, indivíduo
investido na missão de a exercer, mal se encontra empossado, avança para o levantamento
de paredões e muros, transformando o país, que lhe coube, numa coutada sua.
Por inerência do cargo, fica
igualmente isento de prestar contas, podendo contratar quem bem quiser, vender
ou comprar o que assim entender, tudo ao abrigo inquestionado de uma total
impunidade, ad aeternum.
Se se desgostar do que faz,
aguardam-no, à porta, as situações rendosas que antes preparou.
Dirá, então,
civilizadamente:
- Pois meus amigos, ide a
bardamerda!
Depois, quando o feitio lhe
pede, assume, de imediato, os novos e confortáveis mandos que por ele esperaram.
Caso o seduza um beatífico e
merecido repouso, há, pelo mundo fora, ilhas de sonho, livres da fiscalidade,
preservando-lhe o montinho que previdentemente empilhou e pilhou.
Tanto mais que, nos muitos
centros do saber, estão sábios trepidando, na ânsia de lhe ouvir a fórmula
mágica de enriquecer honestamente.
Blair e González, para não
ir mais perto, decidiram-se por um retiro doirado e, benditos sejam, Deus e
eles, vão-se saindo muito melhor que antes, quando governavam um populacho
volúvel, capaz de entregar o precioso voto a outros bem piores que eles.
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