É
todo perfeito, da cabeça aos pés, mas Nosso Senhor não o quer vaidoso e fez-lhe
um risquinho no disco mental, de modo que, quando fala, palavra sim palavra
não, solavanca na frase, saindo-lhe uma dicção não em linha recta mas uma linha
quebrada de picos pronunciados.
Eu,
gaguinho como sou, não daria por isso se o senhor não fosse do arco da
governação e, hoje, finalmente, da equipa salvadora do país.
Por
inerência de funções, a criatura aparece, frequentemente, nos ecrãs da
televisão, a fim de explicar-nos a nós, simples súbditos, a excelência das
medidas que implementa em áreas várias do trabalho, do emprego e da caridade, a
que hoje se chama, se não me engano, solidariedade social.
E
fala e fala e fala e, no dia seguinte, lá está ele, de novo, pois a reforma das
instituições é de enormíssimo vulto e de todos os momentos, com vista a fazer
muito mais e melhor, sem quaisquer recursos, porque a fauna dos mamadores do
Estado, a voracidade dos bancos, os juros astronómicos, que nos cobram lá fora
e cá dentro, não nos possibilitam nos livrarmos dos credores e, muito menos,
crescer economicamente.
Quero,
contudo, de uma maneira ou doutra, tranquilizar o senhor, poupando-he o esforço,
porque eu pertenço ao bom povo português e sou um dos muitos da manada dos resilientes.
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