quinta-feira, 23 de janeiro de 2014


Sempre me intrigou a abundância de advogados nas bancadas da Assembleia da República.
Há poucos dias, porém, ao dobrar uma esquina do pensamento, dei de caras com a explicação, muito simples, aliás.
 
O preceito primordial da profissão é o proporcionar a melhor defesa ao cliente.
Esta formulação deontológica é, a meus olhos luminosa, no espírito e na letra.
 
Se não, vejamos.
Não se alude, nem de leve, à procura da verdade.
 
Sem lugar para dúvidas, o imputado é um cliente e subentende-se no dito a ideia basilar, também, de que o cliente tem sempre razão.
Logo, na minha condição de comerciante, devo eu dar ao cliente o melhor que ele queira e aconselhá-lo da melhor maneira, para que jamais se sinta lesado e volte a procurar-me sempre que precisar.
Alguns dirão que esta é a porta para a mentira, a tortuosidade, a esperteza de vigarista, e que qualquer moral, venha donde vier, deve ficar no vestíbulo de entrada, esperando que, talvez um dia, possa ser atendida.
 
Agora, dá para entender as contorsões circenses, os passos de mágica, o engano como norma que nos parece ver nos espectáculos dos debates.
É um gosto presenciar a actuação dos profissionais que, com máscara de seriedade, transformam o vinho em água e multiplicam o peixe que vendem.
 
Previno, quem me leia, que não se associem estas minhas palavras à passagem de Cristo pela terra.
Esse, dizem, foi um homem sério e corajoso que pagou com a vida os seus propósitos de revolução social.
 
Nota de rodapé: Julgam-se, final e definitivamente, esclarecidas as dúvidas suscitadas pela razão profunda de as Faculdades de Direito registarem o maior número de vagas e admissões.
As graves carências do país assim o exigem, tanto mais que seria inconcebível desperdiçar a irradiação de cérebros como o Senhor Professor ou um tal Lara, muito apreciador de Saramago, que soube ir para além das vírgulas que apontou o não menos ilustre crítico Cavaco.

Sem comentários:

Enviar um comentário