Sempre
me intrigou a abundância de advogados nas bancadas da Assembleia da República.
Há
poucos dias, porém, ao dobrar uma esquina do pensamento, dei de caras com a
explicação, muito simples, aliás.
O
preceito primordial da profissão é o proporcionar a melhor defesa ao cliente.
Esta
formulação deontológica é, a meus olhos luminosa, no espírito e na letra.
Se
não, vejamos.
Não
se alude, nem de leve, à procura da verdade.
Sem
lugar para dúvidas, o imputado é um cliente e subentende-se no dito a ideia
basilar, também, de que o cliente tem sempre razão.
Logo,
na minha condição de comerciante, devo eu dar ao cliente o melhor que ele
queira e aconselhá-lo da melhor maneira, para que jamais se sinta lesado e
volte a procurar-me sempre que precisar.
Alguns
dirão que esta é a porta para a mentira, a tortuosidade, a esperteza de
vigarista, e que qualquer moral, venha donde vier, deve ficar no vestíbulo de
entrada, esperando que, talvez um dia, possa ser atendida.
Agora,
dá para entender as contorsões circenses, os passos de mágica, o engano como
norma que nos parece ver nos espectáculos dos debates.
É
um gosto presenciar a actuação dos profissionais que, com máscara de seriedade,
transformam o vinho em água e multiplicam o peixe que vendem.
Previno,
quem me leia, que não se associem estas minhas palavras à passagem de Cristo
pela terra.
Esse,
dizem, foi um homem sério e corajoso que pagou com a vida os seus propósitos de
revolução social.
Nota de rodapé: Julgam-se, final e
definitivamente, esclarecidas as dúvidas suscitadas pela razão profunda de as
Faculdades de Direito registarem o maior número de vagas e admissões.
As
graves carências do país assim o exigem, tanto mais que seria inconcebível
desperdiçar a irradiação de cérebros como o Senhor Professor ou um tal Lara,
muito apreciador de Saramago, que soube ir para além das vírgulas que apontou o
não menos ilustre crítico Cavaco.
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