sábado, 8 de março de 2014


Lembro-me, demasiado bem, da falação a que assisti há anos, numa prestigiada universidade francesa, em vésperas do golpe de estado contra Salvador Allende.
Chovia, na altura, a propaganda raivosa, o boicote económico ia crescendo, os patrões dos transportes paralisavam o país, as donas de casa burguesinhas saiam à rua em marcha de caçarolas, a ingerência americana, evidente na embaixada e ITT, era ostensiva, para não dizer obscena.

Creio que há quem se lembre, ainda, do que a seguir aconteceu: ditadura do Pinochet, a crueldade arripiante dos estádios de concentração, a caça ao homem de casa em casa, as torturas e assassinatos numa dominação de terror, o roubo de crianças aos pais, o apoio despudorado americano, com remessa de carradas de dinheiro e a ajuda de sábios, de que destacarei Hayek e Milton, prémios Nobel da economia, que, mesmo mortos, são actuais mentores dos nossos governos neoliberais.
E tudo porquê?

Porque Allende, socialista de um socialismo honesto, queria fazer voltar ao povo o que ao povo pertencia.
Pois o senhor conferenciante de que falo, especialista em língua, cultura e civilização da América Latina, trazia para mostrar, da viagem de estudo que por lá realizara, zonas imensas de imenso guano, ele e sua esposa, ambos alcandorados em rochas de grande altura, desfiles populares que considerava folclóricos e muitas outras ilustrações do género.

Foi tamanha a náusea que me deu para barafustar, coisa nada adequada a tão nobre e erudito sítio.
Qual é a razão que me retorna ao passado?

É ter ouvido, em emissão televisiva, um comentador político que, ao assistir à repetição da tragédia, nos dias de hoje, agora, na Venezuela, remata a análise do momento com a conclusão brilhante, apesar da colossal derrota nas eleições municipais, de que o chavismo falhou, como seria de esperar de um regime anti-democrático e autoritário.
Desconhece, mas que importa, a notória regressão da pobreza, os progressos na saúde e na educação para todos, o aumento de salários dos mais pobres, a instituição de uma pensão de reforma a quem não tinha, o esforço continuado na consolidação de uma autêntica democracia participativa.

São estes factos reconhecidos e atestados por organizações e observadores internacionais, entre os quais posso destacar a UNESCO.
Mas o senhor comentador não hesitou na bacorada, com a cara de parvo que lhe é habitual e a correlativa impância do seu ego e da sua auto-satisfação.

Tem por si, é certo, o não ser professor universitário, embora o pudesse ser, dado o tanto à-vontade com que se expande sobre diferentes temas.
Foi, contudo, encartado pela Universidade Nova, é co-fundador de uma revista de turismo duvidoso, com bares gay e quejandos, colunista bem pago de variados jornais, fazedor de opinião, com chorudos proventos que lhe permitem sustentar a numerosa filharada, seu gosto e orgulho, frequentemente apregoados

Esta é, pois, a informação que temos, com uma miríade de papagaios a repetir, sem qualquer contestação, o que a Reuters quer que se diga.

Sem comentários:

Enviar um comentário