Estava enganada ou não a
direita, em disfarce democrata-cristã, social-democrata ou socialista, quando
embandeirou em arco, com a entrada no euro, berrando, alto, sermos finalmente
europeus, nós, que nunca me constou havermos pertencido à África ou a um outro
continente que não fosse o europeu.
Esses apologistas de então
lembrar-se-ão, ainda, de um tal Carvalhas, economista, ter alertado para a
supina estupidez de juntar dois potes, um de ferro, outro de barro.
O tipo, é certo, era um
perigoso comunista, que falava por cassete, ave agoirenta a comprazer-se em
predizer desgraças.
Que dirão, agora, tão ilustres
cérebros em busca de uma desculpa que os credibilize? Engano, desvio, mau humor
dos deuses, mas, ao cabo e ao rabo, firmes na inabalável fé de a crise estar a
chegar ao fim, ainda que palhaços de serviço afirmem, despudoradamente, só
restar a miséria, perspectivada por vinte anos, a prolongar por mais vinte,
pois outras crises se avizinham.
Duas perguntinhas, ainda.
Quando se disse há meses que
havia que reestruturar a dívida, em termos justos, pagando o justo, juros e
prazos comportáveis, políticos de parvónia e assessores comentaristas não
clamaram heresia?
Terão outra solução?
Não é verdade, também, que
quem fala em prevenir a saída do euro dos agiotas, forçada ou por vontade
própria, é taxado de derrotista, ignorante ou louco?
Pois quê! Sentem-se com as
costas quentes, sob o pálio dos predadores de dentro e de fora, que lhes
cozinham os votos estupidamente inertes e pensam que esconjurarão males, pondo
no pelourinho da praça quem lhes aponta miopia ou má-fé e fala, maçadoramente,
em dignidade, soberania e progresso.
É que, para os lacaios de
sempre, só a escravidão é futuro.
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