quarta-feira, 23 de abril de 2014


Capriles Radonski (que nome!) é o líder da oposição, mas estranhamente, só uma única vez o vi na televisão portuguesa, tão pródiga em noticiar a revolta do “povo” venezuelano.
Pois lastimo que não vejamos o senhor, de forma mais frequente, porque ele, na verdade, fala por si mesmo, lobo raivoso a espumar peçonha, no fatinho elegante de figurino londrino.

Estranho, também, é nunca se transmitir o que opinam dirigentes das nações vizinhas, reiteradamente, em apoio ao governo eleito, nem tão-pouco o que nos dizem a ONU e, em particular, a UNESCO.
A Gallup, até, que é costume citar, permanece esquecida, por ter posicionado a Venezuela num lugar cimeiro, após um inquérito a nível mundial ao bem-estar no planeta.

Oiço, contudo, por demais, sobre estudantes revoltosos que se batem pela educação, vindos de universidades privadas cujos custos indicam o estrato social donde provêm.
Desgraçadamente, as já citadas organizações internacionais têm louvado os esforços em curso na generalização de uma educação gratuita, não só do ensino básico, mas extensiva aos mais diferentes níveis.

Insistem os nossos papagaios dóceis, e ignorantes, numa miséria que grassa pelo país inteiro.
Mas é tanto o azar, que a UNESCO atribuiu o número 1 à Venezuela, no que concerne ao esforço na luta contra a pobreza.

Entretanto os repetidores de ofício parecem desconhecer que a carência começou com açambarcamento no privado, quando se tornou proibida a especulação nos preços, que atingiu os mil por cento.
Houvesse uma pitada de honestidade entre nós e não nos limitaríamos a repetir o que agrada o dono, já que seria fácil desmascarar a estratégia de desestabilização dirigida das embaixadas e organizações americanas para o GALI, a que pertencem FUNDAMEDIOS e IPYS.

A razão de facto está apenas no petróleo e na recusa de USA em largar a coutada, onde os escravos querem fugir ao cerco e à sujeição de um mercado único.

Aos senhoritos da Venezuela, habituados que estão a disfrutar sozinhos da riqueza do país não lhes parece bem que educação, cuidados de saúde, salário condigno, reforma assegurada e vida de bem-estar sejam direitos a usufruir por todos.
E, a mando de instrutores estrangeiros, têm organizado comandos, apoiados no lumpen, à boa maneira de uma Alemanha nazi.

As mortes que nos têm mostrado como resultado da repressão são muitas delas esclarecedoras.
6 condutores de mota decapitados pelo arame farpado que atravessava a rua; 5 membros da Guarda mortos no enfrentamento com grupos provocadores; 8 cidadãos assassinados ao arredarem barricadas, entre os quais se contava Adriana Urquiola, 28 anos, grávida de meses, intérprete de linguagem gestual; 1 Procurador da República caído numa emboscada; 1 militante chavista abatido com um tiro na nuca.

E há estudantes mortos, é certo, como Angelo Vargas, presidente do Centro de Estudiantes de Administración y Contaduria, assassinado à saída de uma reunião em que enfrentou os estudantes opositores.
E as heróicas acções do “povo” revolucionário são autocarros incendiados, estações de metro vandalizadas, a universidade UNEFA destruída pelas chamas, alimentos destinados aos mercados públicos reduzidos a cinzas, instalações eléctricas sabotadas, centros médicos devastados, edifícios ministeriais saqueados.

Tudo me faz lembrar o Chile de 73 e os tempos em que os caceteiros do Melo, hoje com estátua, queimavam e destruíam no Portugal renovado quanto lhes cheirasse a progresso.
O triste alinhamento de uma Europa em agonia vem de saber que, morto o patrão, em agonia também, findará de vez este milenário reino da exploração.

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