Os da selva africana, não
sei, nunca me meti com eles. Os da selva em que vivemos, bípedes ou
quadrúpedes, costumam ser pachorrentos, inofensivos, divertidos, mesmo, sobretudo,
por paradoxal que seja, os mais trombudos.
Eles tocam sinetas, passeiam
crianças, bailam em cima de plintos, dobram-se em vénias de corte, são muito
afeiçoados e não consta que asneiem.
Este, porém, com olhos de
carneiro mal morto, de certo por tal hibridez, dá-lhe para dizer asneiras e tem
ouvidos que o escutam.
Ou, melhor, tolices e
meias-verdades, suportáveis em quem não conta, criminosas em quem se arroga do
título de comentador.
Aqui há dias, falando da
Segurança Social, soltou, num arroto rolado, que é insustentável a situação
actual, bastando observar os números.
A criatura até tem razão,
mas estranho é que não queira saber e, muito menos, explicar, a razão desses
números.
Ter-se-á esquecido que o
desemprego monstruoso implica mais despesa e poucos descontos? Que a venda das
empresas públicas reflecte-se na míngua de receitas? Que a emigração em massa
desfalca as finanças do país de origem e dinamiza a economia do país de
acolhimento? Que os bancos, além das injecções periódicas de dinheiro nosso,
pagam uma ridicularia sobre os lucros confessados, não os reais? Que os luxos,
por serem luxos, não vão além dos impostos que agravam o custo de bens
essenciais? Que as vinte sociedades mais poderosas do país, alegando o que a
lei lhes facultou, têm sedes no estrangeiro, muitas vezes em paraísos fiscais?
Não há dinheiro, nem pode haver,
porque é entisicando o Estado que ele se rende sem condições ao poder económico
e o cidadão deixa de ter direitos para se tornar, apenas, um servo pagante.
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