Admito que quizílias e
escândalos da pequenez de aldeia dêem pano para mangas nas palrações de café.
E a matrona minha vizinha, a
quem nenhum pormenor escapa, péla-se por informações do género, erguendo-se,
gratuitamente, a comentarista do burgo, quando esquece os seus achaques.
Convenhamos, todavia, que,
em fazedores de opinião, olhar a freguesia apenas deixa um travo a maldizer e
fulanização de taberna.
Sabe-se que Portugal ainda
existe e num mundo em relação, onde o que se deu, dá ou dará passa-se ou passou-se
em muitas outras latitudes.
Falar do que por aqui
acontece, esquecendo a sua ligação com o resto, não me parece concebível em
gente que, queira ou não, configura a opinião de outros.
É de louvar que citem Camões
ou Shakespeare, mas responsáveis que são, nunca lhes ouvi referência a Harvey
ou Eagleton, Illueca ou Espinosa, Petras ou Lapavitsas, nem um poucochinho
sequer, a Louçã ou à Sandra, do melhor que a casa tem.
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Os que vierem depois do
período de apodrecimento e depredação do planeta não dirão como nós, do fim do
império romano, que nada dessa fase merece grande atenção.
Goza a nossa época da
vantagem da multiplicidade de registos e descobrir-se-á que, em plena escatologia
e degradação moral, no jornalismo, por exemplo, havia seriedade e arte no
fazer.
Nunca o Avante! teve tão bons colaboradores, nunca tão ostensivamente se
destacou do lixo em que existe, embora clandestinamente, quase, que qualidade e
honra não se dão bem com desvergonha e negócio.
Talvez haja poucos que
entendam, mas a desgraça de se viver entre sordidez e indignidade pode ser
redimida se mais tarde disserem que até nas fases de baixeza maior há gente que
é gente e anuncia um mundo novo.
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