Ainda que em fase de carreio
para a banca, a televisão mantém a qualidade que tinha e o leque alargado de
mil opções possíveis.
Obrigue-a a moda a obrigar a
baixar a bainha e garanto-lhe, senhora, que se sentirá enlevada com telenovelas
para todo o gosto e a voz, no fim, insinuosa e líquida, do regente de emoção,
oculto, que, em linguagem chã, vem veludamente esporear-lhe o interesse.
- Cairá a Joana na esparrela
do Luís?
Ou:
- Descobrirá a Vanessa o
segredo da mãe?
Seja o afazer de momento
rechinar um refogado, dificultando a audição, fazendo-a amaldiçoar o trabalho,
que um Quim ou um Con, ambos lhe darão interpretações subidas das pérolas
musicais de “Aperta com ela” ou “Cheira a Bacalhau”.
Se é macho e só
contrafeitamente se abana, creia que não será esquecido, tendo por si três e quatro canais de futebol ao vivo, mais
comentários, antes, durante e depois, que analisam, dissecam, esmiuçam,
microscopiam.
Em baixa ou desempregado, há
anjos a velar por si, gordos ou gordas, que o sexo não se discute, na
informação de preços e intrigas, arredando-o, bondosamente, da chatice da
triste vida.
Para outro nível de
exigência, gente propensa à falação e às letras, há mesas redondas, quadradas,
hexagonais, com seres de facúndia, erudição, agudeza, direitinhos no porte,
educadinhos à farta, seleccionados a preceito.
Digam-me, então, se será
crível que um idiota qualquer escolha este momento de transe para desatar em
lamúrias só porque a escola fechou?
Com tantos anos de
ensinamento democrático, não percebeu, ainda, que o filho, madrugando e
tresnoitando, está beneficiando de uma formação sem par, que lhe dará asas e
força para, mais tarde, emigrar?
Quanto a queixar-se dos
hospitais que fecham, não é por razões de sociabilidade ou estudo, mas porque, vencidos
os anos de espera, espera-o a optimização de recursos e atendimento de dez
estrelas.
Tudo o que se pede é que não
nos traia a governança esforçada e benfazeja, decidindo morrer quando menos se
esperava.
Aprenda, por favor, com o
professor da Judite, grande tricotador de elogios à revolução na Saúde do nosso
cobrador de impostos, ex-segurador do Espírito Santo, hoje na falência,
infelizmente, o banco, não ele, que energia e cabeça são coisas que lhe sobram.
Dir-lhe-ei mesmo mais: tudo
a quanto assiste e não entende é portão de entrada de um futuro risonho, com
salários subindo, os impostos a descer, fundos comunitários a rodos e
cavalinhos a correr, o paraíso na terra que o do céu há-de fechar, pois ninguém
vai querer morrer.
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