sábado, 14 de junho de 2014


Ouve-se com frequência dizer que quem dá o que tem a mais não se obriga.
Exige-se, porém, um pouco de cuidado ao interpretar o dito porque os que, no presente, desgovernam, dão exactamente o que a animalidade lhes permite.

E o asserto, tanto quanto parece, olha com simpatia a boa gente deste mundo, que, acanhada nas ideias, fica pelo convencional e paz universal, inimigo incluído.
São eles sempre dispostos à recolha de alimentos, participação em peditórios, obrinhas de caridade, capazes, mesmo, de lastimar o sofrimento alheio, chorar quem morre abandonado à sorte, porque hospitais e médicos distanciam-se e negam-se.

Apesar de os culpar pela porcaria em que vivo, consentidores que são, nutro simpatia por um virtuoso desses, que, na polivalência actual de paus para qualquer roupa, dizem-no comentador, jornalista, escritor, poeta e, procurando bem, títulos, pergaminhos, diplomas não lhe faltarão, por certo.
Boa pessoa, creio, incapaz de canalhice, esforçando-se por mesura e justiça.

Contudo, o sangue diluído em cordura e bonachice, finda por aceitar o que revolta exige.
Estava em terreiro a vigarice, de uns tantos, que, em período de eleições, são promessas e sorrisos, mas, desde que alcandorados com a patetice dos crédulos, enfuriam-se na depredação, espezinham as leis, cidadãos, futuro, quatro anos inteiros, com total impunidade, graças aos cânones da degradação presente.

Reacção do personagem:
- Os políticos são assim.

O que nem sempre é verdade, diga-se.
Por ele, contudo, não há que estranhar o indivíduo, ou indivídua, que, condenado e demitido duas ou três vezes por corrupção, negócios sórdidos, trafulhice, possa ditar regras de conduta  e goze de omnipresência onde o arroto é possível e desejável, nesta televisão de zombies.

Falou-nos Vieira de atrasos e de cafres e Nobre lastima ter nascido onde nasceu, mas há um Portugal de Abril.
Onde?

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