Ouve-se com frequência dizer
que quem dá o que tem a mais não se obriga.
Exige-se, porém, um pouco de
cuidado ao interpretar o dito porque os que, no presente, desgovernam, dão
exactamente o que a animalidade lhes permite.
E o asserto, tanto quanto parece,
olha com simpatia a boa gente deste mundo, que, acanhada nas ideias, fica pelo
convencional e paz universal, inimigo incluído.
São eles sempre dispostos à
recolha de alimentos, participação em peditórios, obrinhas de caridade,
capazes, mesmo, de lastimar o sofrimento alheio, chorar quem morre abandonado à
sorte, porque hospitais e médicos distanciam-se e negam-se.
Apesar de os culpar pela
porcaria em que vivo, consentidores que são, nutro simpatia por um virtuoso
desses, que, na polivalência actual de paus para qualquer roupa, dizem-no
comentador, jornalista, escritor, poeta e, procurando bem, títulos,
pergaminhos, diplomas não lhe faltarão, por certo.
Boa pessoa, creio, incapaz
de canalhice, esforçando-se por mesura e justiça.
Contudo, o sangue diluído em
cordura e bonachice, finda por aceitar o que revolta exige.
Estava em terreiro a
vigarice, de uns tantos, que, em período de eleições, são promessas e sorrisos,
mas, desde que alcandorados com a patetice dos crédulos, enfuriam-se na depredação,
espezinham as leis, cidadãos, futuro, quatro anos inteiros, com total
impunidade, graças aos cânones da degradação presente.
Reacção do personagem:
- Os políticos são assim.
O que nem sempre é verdade,
diga-se.
Por ele, contudo, não há que
estranhar o indivíduo, ou indivídua, que, condenado e demitido duas ou três
vezes por corrupção, negócios sórdidos, trafulhice, possa ditar regras de
conduta e goze de omnipresência onde o
arroto é possível e desejável, nesta televisão de zombies.
Falou-nos Vieira de atrasos
e de cafres e Nobre lastima ter nascido onde nasceu, mas há um Portugal de
Abril.
Onde?
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